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Nascendo diferente

  • ekavolf
  • 9 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Era uma noite qualquer e eu estava em casa à espera de meu marido. O telefone tocou e me levantei para atender. Era minha filha Helena dizendo para me sentar. Estranhando seu pedido retrucava questionando o porque. Finalmente me convencera, então começou a chorar e dizer que a família, daqui uns meses estaria maior. Ela estava grávida

Os meses foram se passando e todos, cada dia que se passava, ficavam mais ansiosos. A expectativa era grande. Uma parte da família dizia que seria um menino, pois o mês era propício para tal. Já o outro lado afirmava fortemente que não, que seria uma menina, e que nela colocariam laçinhos, fitas coloridas e lindos vestidos rodados. Houve dias em que passamos horas após o almoço, ainda á mesa, falando sobre a criança e imaginando sua perfeição.

Em uma quarta-feira, eu e minha filha fomos ao Shopping de nossa cidade para comprarmos as primeiras roupinhas do bebê. Tínhamos acabado de sair do médico e ele nos dissera que seria um menino. Nossa felicidade era tanta que confesso que exageramos na quantidade de roupas e pequenos brinquedos. Elas eram azuis, verde claro, laranja, estampadas e lisas. Brincávamos uma com a outra que se o menino não crescesse nunca, ele teria roupa até dez anos de idade para mais. A diversão foi enorme.

Estava uma correria em casa. Enquanto uns ligavam o carro com Helena dentro, outros colocavam na mala azul bordada com um ursinho marrom, várias roupas para quando o bebê nascesse. O grande dia havia chegado. Deixar minha filha entrar sozinha para um centro cirúrgico, tirar minha mão da dela foi algo muito difícil. A sensação que eu tinha naquele momento era de abandono, mas um abandono forçado. Estavam tirando minha filha de mim, e por incrível que pareça foi naquela hora que senti que havia perdido o posto de uma pessoa superior. Mesmo depois de anos casada, sentia que minha filha ainda era minha, mas já não pensava a mesma coisa. Realmente ela havia deixado o ninho.

Enquanto esperávamos até o parto terminar, alguns amigos e parentes conversavam e até apostavam quando o bebê começaria a falar. Houve diversos palpites. Um ano, um ano e meio e até dois anos. Também foi falado sobre a idade em que ele andaria. Seria dois anos? E a conversa foi até o médico chegar e dizer que tudo ocorreria bem, mas pedia para falar com alguém da família. O semblante de felicidade foi no mesmo momento para um de preocupação. Assim como todos  me coloquei de pé, mesmo com as pernas trêmulas, e o segui.

Como todas as noticias ruins, o médico começara a falar o que ocorrera geneticamente com a  criança. Porém com todo meu nervosismo, não estava entendendo muita coisa. Percebendo isso ele foi logo ao ponto principal. Me falou que ela nasceu bem, mas que era portadora da Síndrome de Dawn. Ele continuou seu discurso, mas a partir dessas palavras não o ouvi em mais nada. Fiquei assustada, não esperava que isso acontecesse com minha família. Fui até a sala de espera informar a todos. A tristeza foi geral e muitos começaram a chorar. Com a exceção de uma amiga de Helena. Ela nos olhava como se não estivesse entendendo. Então com uma voz de quem queria mudar o mundo, abriu sua boca e falou sem parar.

“Eu só queria saber qual o motivo de tanta tristeza. O que me pareceu nessa cena que acabei de ver, é que vocês estão assustados em ver uma criança nascer com muita saúde. Veja sua tristeza – apontava para mim – em ver que seu próprio neto recebendo  vários amigos em seu nascimento e em ter uma família que o ama tanto. Realmente ele vai nascer diferente. Dentro todos os netos da família ele será o mais paparicado, o mais querido. Essa será a única diferença dele. Espero que o jeito de pensar de vocês mudem até a porta do quarto daquela mãe, que ao contrário de vocês, está feliz em ver seu filho nascer com saúde.

E se levantou da cadeira, entro no quarto e deixou a porta aberta na esperança que os outros e eu fossemos até lá com lágrimas mudadas, de felicidade. Um por um se levantou, enxugando as lágrimas de seus rostos e entraram no quarto com sorrisos maravilhosos. Quando e entrei vi que minha filha ficou feliz em ver que seus amigos estavam felizes pelo nascimento e não pela pequena e indiferente diferença.

Claro que esse dia nunca mais eu esqueci, tanto pelo nascimento de meu neto quanto pela reação que aquela menina causara em uma família toda. Hoje sou mudada graças a ela, e dela nunca mais me esquecerei.

Texto de uma avó desconhecida.




 
 
 

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